terça-feira, 29 de setembro de 2009

Jô Soares no motel...


Quando me casei pela primeira vez há uns bons 25 anos atrás, minha primeira mulher me achava um * tesão*. Descasei depois de 21 anos e me juntei com outra mulher e essa já me achava um *pesão*! Daí estive refletindo e há certas coisas que me incomodam... Algumas ocasiões são realmente muito desagradáveis na vida de um gordo. Ir a um motel, com toda certeza, é uma delas. Tudo em um motel parece que foi projetado minuciosamente para sacanear com a cara dos obesos. Reparem só. Na grande maioria desses estabelecimentos é preciso subir uma escadaria para chegar ao quarto. Isso não se faz. Ou o gordo trepa ou sobe escada. As duas coisas no mesmo dia são impraticáveis. O gordo chega tão esgotado no quarto que parece até que já deu duas no caminho. A parceira, então, propõe uma hidromassagem para relaxar. O que, na verdade, quer dizer: ' - Por que você não vai tomar banho,seu gordo sebento?'. Já na banheira, o gordo percebe que nem a água quer ficar com ele. Metade cai fora, preferindo manter uma relação mais íntima com o chão do banheiro. Dá um friozinho na barriga. Até porque parte da barriga, como um iceberg, fica pra fora da espuma. Mas é na saída do banho que a situação fica ainda mais ridícula. Chega o fatídico momento de colocar o roupão. É triste. Com algum esforço, o cinto até fecha, mas o roupão não. Fica aquele decote tipo Luma de Oliveira, que dá pra ver até o umbigo. Só que no lugar da Luma está o Jô, saca ! É constrangedor. Quando o gordo finalmente chega no quarto, a situação consegue ficar ainda pior. Se um elefante incomoda muita gente, dez elefantes de roupão refletidos nos espelhos incomodam muito mais. Para que tanto espelho? Se o próprio gordo já fica mal, imagina a parceira cercada pela manada? Se eu fosse ela, não dava mais de comer aos animais. Mas de todos os espelhos o mais cruel, sem dúvida, é o do teto. A vista é estarrecedora. Dá até para entender por que a maioria das mulheres transa com os olhos fechados. Acho que a única utilidade de tantos espelhos é prá gente conseguir ver o pinto que a barriga não deixa a gente ver ha muitos anos. Já faço até xixi no piloto automático. Eu, como sou um gordo experiente, uso uma tática infalível: ligo o ar condicionado no máximo para forçar o uso do lençol. Afinal, o que os olhos não vêem...


(Jô Soares- texto / entrevista)

terça-feira, 23 de junho de 2009

A louca do pau

Hoje, no caminho até o trabalho, me deparei com uma cena absolutamente bizarra. Lá vinha eu, serena, caminhando pela calçada, sentindo bater no rosto aquele ventinho frio típico das primeiras horas da manhã, quando vejo uma mulher de hobby gritando no meio da rua. O motivo de fúria dela era um mendigo, que dormia na calçada vizinha. Ela gritava incitando alguns vizinhos que estavam por ali, alguns metros à frente dizendo:
- Querem participar? Venham!
Foi tudo tão rápido, quando vi, ela já estava com um pedaço de pau atirando no mendigo, xingando e continuava a gritar. O mendigo acordou assustado sem saber o que estava havendo.
Veja, em que ponto chegou a falta de amor ao próximo, a desumanidade das pessoas. O mendigo estava apenas dormindo na calçada. Como é possível que alguém seja capaz de agredir uma pessoa que já não tem um mínimo de dignidade? Nessas noites frias, e sim, estava um friozinho de manhã, mesmo assim, aquela louca foi capaz de acordar, a pauladas, uma pessoa desagasalhada, sem teto, provavelmente tomada pela fome e frio, simplesmente por que estava dormindo na calçada, que aliás, corrigindo, não pertence a ela, nem ao vizinho sequer. As calçadas são públicas e por incrível que pareça, aquela calçada também pertence àquele mendigo.
A indignação tomou conta de mim, indignação e medo. Sim, medo! A humanidade está doente! Não existe mais o sentimento de união. Hoje só existe o egoísmo, as pessoas pensam somente em si. Se sentem “donas da razão”, sentimento de posse. Solidariedade? Para ser solidário é preciso amar, é preciso sobrar amor, é preciso se preocupar com outras pessoas, e não só consigo, ou com sua família. Ser solidário, infelizmente, é qualidade de poucos, muito poucos.
Essa cena revoltante me fez refletir. O que eu tenho feito e o que mais eu posso fazer pelo meu próximo? É fácil enxergar a injustiça, é fácil apontar os erros e os culpados, mas é muito difícil se mobilizar. Por isso, eu te pergunto: O que você tem feito? O que é que NÓS vamos fazer?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ron Mueck

Two woman - Ron Mueck
Absolutamente Fantástico!!!

Para quem não conhece, vale à pena conferir o trabalho de Ron Mueck!

O artista australiano é famoso por suas esculturas hiper-realistas, apresentadas em diferentes escalas. Ao esculpir, Mueck amplia e reduz a escala humana, despertando no espectador um turbilhão de sensações quando se depara com uma de suas peças.

As esculturas, que são produzidas com materiais como fibra de vidro, silicone, resina acrílica e poliéster, chama a atenção por sua incrível verossimilhança. Imagine você, o estranhamento que se sente, ao encontrar um gigante sentado no canto de parede de uma galeria?


Big man - Ron Mueck




Pregnant woman - Ron Mueck







Detalhes de rosto de Pregnant woman - Ron Mueck




In bed - Ron Mueck





A girl - Ron Mueck






Dead dad - Ron Mueck







Boy - Ron Mueck







Wild Man - Ron Mueck










terça-feira, 28 de abril de 2009

Cabaret Voltair




" Numa época como a nossa, em que as pessoas são agredidas diariamente pelas coisas mais monstruosas, sem que possam registrar suas impressões, uma produção estética se torna um caminho recomendado. Toda arte viva, porém, será irracional, primitiva, complexa: falará a língua secreta e deixará documentos que não vão falar de edificação, mas de paradoxo".

(Hugo Ball)



Imagem: Hugo Ball declamando o poema sonoro Karawane, 1916, um dos últimos eventos do cabaré voltair.


... " Só por meio do desemprego torna-se possível, para o indivíduo, chegar à certeza sobre a verdade da vida e finalmente habituar-se à experiência".

(A arte da performance - Roselle Goldberg)

terça-feira, 14 de abril de 2009

África



Hoje, pela manhã, estava eu, no auge da minha ausência criativa, fuçando a internet em busca de imagens de máscaras e colares africanos. Assunto que há muito me fascina e que agora, vem se tornando de essencial importância para meus trabalhos em cerâmica.
Pois bem, eis que encontro em minha busca um blog maravilhoso com amplo conteúdo à cerca do continente africano. Além de tratar de vários assuntos como arte, comunidade, música e etc., o blog também faz indicações de filmes!
Para quem se interessa vai aí a dica:

Ah! Os direitos dessa imagem genial são reservados ao fotógrafo Hans Silvester.


terça-feira, 7 de abril de 2009

DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL

Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse. Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo.. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O poeta da sua geração


Ontem mais uma vez assisti ao filme "Cazuza - O tempo não pára". Mais uma vez me debulhei em lágrimas. Impossível não se emocionar nas últimas cenas do filme, quando são passadas imagens reais do poeta.
O filme narra sua trajetória no Barão vermelho, sua carreira solo, a luta contra a Aids e o amor incondicional de sua mãe, Lucinha. Apaixonado pela vida, Cazuza viveu intensamente, até a última dose. Não lançava mão de se divertir, de fazer o que queria e quando queria. Poeta rebelde, Cazuza não media palavras. Suas letras que falavam de tristeza e de paixão, marcaram uma geração inteira.
Cazuza lutou bravamente contra a Aids e continuou produzindo compulsivamente até o fim.
Me despeço deixando a letra de "Faz parte do meu show" e também o link do site oficial, onde é possível saber tudo a respeito da vida e obra do grande poeta.
Faz parte do meu show - Cazuza
Te pego na escola
E encho a tua bola
Com todo o meu amor
Te levo pra festa
E testo o teu sexo
Com ar de professor
Faço promessas malucas
Tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby
É pra te proteger da solidão
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Confundo as tuas coxas
Com as de outras moças
Te mostro toda a dor
Te faço um filho
Te dou outra vida
Pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta
Das pedras do Arpoador
Digo "alô" ao inimigo
Encontro um abrigo
No peito do meu traidor
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Invento desculpas
Provoco uma briga
Digo que não estou
Vivo num clip sem nexo
Um pierrô-retrocesso
Meio bossa nova e rock 'n' roll
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Marisa Monte




Para o meu post inaugural, ofereço Marisa Monte.
Na minha opinião, nada menos que uma das melhores cantoras brasileiras.
Pra quem gosta de Marisa e deseja saber mais sobre sua discografia e carreira, vale à pena conferir o site oficial da cantora: http://www2.uol.com.br/marisamonte/site/abertura.htm


Vilarejo - Marisa Monte

Há um vilarejo ali

Onde Areja um vento bom

Na varanda, quem descansa

Vê o horizonte deitar no chão

Pra acalmar o coração

Lá o mundo tem razão

Terra de heróis, lares de mãe

Paraíso se mudou para lá

Por cima das casas, cal

Frutas em qualquer quintal

Peitos fartos, filhos fortes

Sonho semeando o mundo real

Toda gente cabe lá

Palestina, Shangri-lá

Vem andar e voa

Lá o tempo espera

Lá é primavera

Portas e janelas ficam sempre abertas

Pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão

Flores enfeitando

Os caminhos, os vestidos, os destinos

E essa canção

Tem um verdadeiro amor

Para quando você for